Sabrina Domingos
O mercado de serviços ambientais é cada vez mais visto como uma alternativa para se lidar com as questões climáticas. O pesquisador Andrew Mitchell, do Programa Dossel Global (uma aliança entre 29 instituições cientificas de 19 países para pesquisar dossel de florestas) acredita que estipular valor para as florestas tropicais seja o melhor caminho para preservá-las e ainda garantir a segurança alimentar, a riqueza biológica e a renda das comunidades rurais mais pobres.
“As florestas são derrubadas porque valem mais cortadas do que preservadas. Este é um exemplo clássico de um fracasso de mercado; mas os serviços ambientais podem mudar essa situação”, avalia o pesquisador.
Mitchell diz que hoje o mundo visualiza quatro maneiras de se reduzir as emissões provenientes do desmatamento. A primeira é a plantação de florestas – atividade que vem demorando para receber aprovação pelo esquema de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Quioto. Além disso, há preocupação com uso de espécies exóticas, perda de biodiversidade e falta de incentivos para projetos de pequena escala.
A segunda, conhecida pela sigla REDD, é um mecanismo para compensar os países que reduzem suas taxas de emissões vindas do desmatamento e da degradação de florestas. No entanto, nações com pequenos índices de desmatamento recebem poucos recursos por esse sistema, já que os créditos de carbono são voltados apenas para a redução de emissões, não para o carbono estocado.
Nesse caso, há uma terceira opção, que consiste na conservação de estoques de carbono, ou seja, o pagamento a países pelo carbono contido em suas florestas. Mas Mitchell preocupa-se com a possibilidade de inclusão de outros ecossistemas ricos em carbono no esquema, como áreas pantanosas. Segundo ele, isso poderia gerar um acúmulo de créditos estocados e, consequentemente, um colapso nos preços do carbono, o que desestimularia o mercado e as reduções de emissões.
A quarta alternativa, na qual o pesquisador deposita mais esperança, são os serviços ambientais – um esquema de compensação mais abrangente, baseado no valor dos múltiplos serviços oferecidos pelas florestas saudáveis. Ele compara as florestas a prestadoras de serviços gigantes que oferecem benefícios em nível local, regional e global e acredita que os mercados financeiros pagarão por esses bens valiosos.
Localmente, as florestas protegem as vertentes, estabilizam o solo e previnem inundações. Em escala regional e global, são responsáveis pela produção das chuvas, moderação do clima e manutenção da biodiversidade. Mitchell defende que os mercados futuros terão foco além do carbono e que o pagamento por serviços ambientais poderá levar bilhões de dólares por ano aos países donos de florestas.
“Filantropia e impostos dos governos não serão suficientes para incentivar os esforços de conservação das florestas no nível necessário para que haja impacto real”, afirma. “Mas por um mercado entre 10 e 15 bilhões de dólares é mais conveniente”, completa.
Serviços da Amazônia
Os pesquisadores brasileiros foram pioneiros no entendimento da quantidade de interações entre biosfera e atmosfera nas florestas tropicais. A Amazônia é responsável por 16% das reservas de água doce e gera 20 bilhões de toneladas de chuva por dia.
Não se sabe ainda o que aconteceria ao regime de chuvas caso a Amazônia fosse devastada; mas a substituição da capacidade hídrica do Brasil (que fornece entre 70% e 80% da eletricidade do país) custaria cerca de 100 bilhões de dólares. Esse cenário implica em um valor de 260 dólares por hectare para que o Brasil mantenha a floresta somente em função da água.
Mitchell explica que, para criar mercados ambientais em uma escala global, é necessário seguir alguns passos, que iniciam com estudos científicos para comprovar quais são os serviços e o que as florestas tropicais fazem por nós. Os cientistas vêem a questão como um sistema global que pode ser dividido em quatro prestadoras de serviços que operam tanto em escala local quanto global: a Amazônia, o escudo da Guiana, a bacia do Congo e a floresta do sudeste da Ásia.
Os próximos passos seriam reunir economistas ambientais e os cientistas para determinar os valores para os serviços; levar as informações para a arena política e criar uma estrutura que incentive o pagamento pelos serviços ambientais; e, por último, persuadir as pessoas por meio do Marketing.
O pesquisador reconhece que pode ser difícil convencer os consumidores a pagarem por serviços que atualmente recebem de graça, mas diz que uma das motivações pode ser o fato de que, no fundo, faz parte do interesse de cada um manter a chuva caindo, por exemplo. As pessoas ainda não reconhecem isso, mas um bom argumento seria dizer a um fazendeiro do Mato Grosso que, nos próximos 50 anos, a chuva que cai na terra dele irá reduzir e trazer impactos para a produtividade das plantações e perguntá-lo se deseja pagar para prevenir que isso aconteça. “Você precisa quantificar. Se reduzir a chuva em 10% por década, terá um efeito mensurável na produtividade da terra. Isso precisa ser demonstrado”, explica.
Para evitar que um fazendeiro que se recusa a pagar pela chuva beneficie-se do pagamento feito pelo vizinho, Mitchell entende que o ideal é criar um sistema de taxação. “No futuro os governos podem optar por implantar um imposto para ajudar a proteger a Amazônia – que é interesse comum dos cidadãos. Produtores de matérias-primas que utilizam as terras da floresta terão de pagar uma taxa de chuva para preservar o resto, e até esquemas de certificação futuros de compradores de outros continentes podem exigir isso. Com 9 bilhões para alimentar no futuro, nós precisamos pensar de maneira diferente”, argumenta.
Fonte: CarbonoBrasil / Mongabay.
O mercado de serviços ambientais é cada vez mais visto como uma alternativa para se lidar com as questões climáticas. O pesquisador Andrew Mitchell, do Programa Dossel Global (uma aliança entre 29 instituições cientificas de 19 países para pesquisar dossel de florestas) acredita que estipular valor para as florestas tropicais seja o melhor caminho para preservá-las e ainda garantir a segurança alimentar, a riqueza biológica e a renda das comunidades rurais mais pobres.
“As florestas são derrubadas porque valem mais cortadas do que preservadas. Este é um exemplo clássico de um fracasso de mercado; mas os serviços ambientais podem mudar essa situação”, avalia o pesquisador.
Mitchell diz que hoje o mundo visualiza quatro maneiras de se reduzir as emissões provenientes do desmatamento. A primeira é a plantação de florestas – atividade que vem demorando para receber aprovação pelo esquema de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Quioto. Além disso, há preocupação com uso de espécies exóticas, perda de biodiversidade e falta de incentivos para projetos de pequena escala.
A segunda, conhecida pela sigla REDD, é um mecanismo para compensar os países que reduzem suas taxas de emissões vindas do desmatamento e da degradação de florestas. No entanto, nações com pequenos índices de desmatamento recebem poucos recursos por esse sistema, já que os créditos de carbono são voltados apenas para a redução de emissões, não para o carbono estocado.
Nesse caso, há uma terceira opção, que consiste na conservação de estoques de carbono, ou seja, o pagamento a países pelo carbono contido em suas florestas. Mas Mitchell preocupa-se com a possibilidade de inclusão de outros ecossistemas ricos em carbono no esquema, como áreas pantanosas. Segundo ele, isso poderia gerar um acúmulo de créditos estocados e, consequentemente, um colapso nos preços do carbono, o que desestimularia o mercado e as reduções de emissões.
A quarta alternativa, na qual o pesquisador deposita mais esperança, são os serviços ambientais – um esquema de compensação mais abrangente, baseado no valor dos múltiplos serviços oferecidos pelas florestas saudáveis. Ele compara as florestas a prestadoras de serviços gigantes que oferecem benefícios em nível local, regional e global e acredita que os mercados financeiros pagarão por esses bens valiosos.
Localmente, as florestas protegem as vertentes, estabilizam o solo e previnem inundações. Em escala regional e global, são responsáveis pela produção das chuvas, moderação do clima e manutenção da biodiversidade. Mitchell defende que os mercados futuros terão foco além do carbono e que o pagamento por serviços ambientais poderá levar bilhões de dólares por ano aos países donos de florestas.
“Filantropia e impostos dos governos não serão suficientes para incentivar os esforços de conservação das florestas no nível necessário para que haja impacto real”, afirma. “Mas por um mercado entre 10 e 15 bilhões de dólares é mais conveniente”, completa.
Serviços da Amazônia
Os pesquisadores brasileiros foram pioneiros no entendimento da quantidade de interações entre biosfera e atmosfera nas florestas tropicais. A Amazônia é responsável por 16% das reservas de água doce e gera 20 bilhões de toneladas de chuva por dia.
Não se sabe ainda o que aconteceria ao regime de chuvas caso a Amazônia fosse devastada; mas a substituição da capacidade hídrica do Brasil (que fornece entre 70% e 80% da eletricidade do país) custaria cerca de 100 bilhões de dólares. Esse cenário implica em um valor de 260 dólares por hectare para que o Brasil mantenha a floresta somente em função da água.
Mitchell explica que, para criar mercados ambientais em uma escala global, é necessário seguir alguns passos, que iniciam com estudos científicos para comprovar quais são os serviços e o que as florestas tropicais fazem por nós. Os cientistas vêem a questão como um sistema global que pode ser dividido em quatro prestadoras de serviços que operam tanto em escala local quanto global: a Amazônia, o escudo da Guiana, a bacia do Congo e a floresta do sudeste da Ásia.
Os próximos passos seriam reunir economistas ambientais e os cientistas para determinar os valores para os serviços; levar as informações para a arena política e criar uma estrutura que incentive o pagamento pelos serviços ambientais; e, por último, persuadir as pessoas por meio do Marketing.
O pesquisador reconhece que pode ser difícil convencer os consumidores a pagarem por serviços que atualmente recebem de graça, mas diz que uma das motivações pode ser o fato de que, no fundo, faz parte do interesse de cada um manter a chuva caindo, por exemplo. As pessoas ainda não reconhecem isso, mas um bom argumento seria dizer a um fazendeiro do Mato Grosso que, nos próximos 50 anos, a chuva que cai na terra dele irá reduzir e trazer impactos para a produtividade das plantações e perguntá-lo se deseja pagar para prevenir que isso aconteça. “Você precisa quantificar. Se reduzir a chuva em 10% por década, terá um efeito mensurável na produtividade da terra. Isso precisa ser demonstrado”, explica.
Para evitar que um fazendeiro que se recusa a pagar pela chuva beneficie-se do pagamento feito pelo vizinho, Mitchell entende que o ideal é criar um sistema de taxação. “No futuro os governos podem optar por implantar um imposto para ajudar a proteger a Amazônia – que é interesse comum dos cidadãos. Produtores de matérias-primas que utilizam as terras da floresta terão de pagar uma taxa de chuva para preservar o resto, e até esquemas de certificação futuros de compradores de outros continentes podem exigir isso. Com 9 bilhões para alimentar no futuro, nós precisamos pensar de maneira diferente”, argumenta.
Fonte: CarbonoBrasil / Mongabay.
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