15/10/2008
Por Luiz Prado
No Rio, o jogo de cena da CEDAE consiste em chamar a imprensa uma vez por semana para apontar o dedo na direção de algum bode expiatório para esconder as infindáveis mazelas do abastecimento público de água e da coleta e tratamento (quase inexistente) de esgoto nas áreas em que a empresa é concessionária dos serviços.
Com um marketing de 5ª categoria, quando se refere a ligações clandestinas de água, a CEDAE fala de um programa denominado “gato gordo”, ou seja, o gato feito por qualquer um que não esteja numa favela ou região mais pobre da cidade. O alarde é grande, os impactos financeiros positivos nas contas da empresa são quase nulos e nunca apresentados. As imensas perdas “técnicas”, na rede – da ordem de 25% - nunca são sequer mencionadas. Técnicas entre aspas mesmo, porque se devem à má gestão.
Agora, dentro da mesma linha – a linha de quem nunca teve linha (e nem compostura), a linha do improviso e da tentativa de se manter no noticiário com notícias sobre ações irrelevantes, a Delegacia de Crimes Ambientais foi convidada a participar de vistorias em estações compactas de tratamento de esgotos em hotéis na Barra da Tijuca.
A notícia é acompanhada da informação de que cerca de 80% dos condomínios já estão conectados à rede de coleta, sem que sejam apresentados dados concretos, mensuráveis na vazão de esgoto que chega à “estação de tratamento” que, abandonada, e não trata nada. Mas nela é possível e em outros pontos é possível medir a vazão de esgotos encaminhada sem tratamento ao emissário submarino da Barra.
Já existem – e há muito tempo – medidores de vazão com sensores que transmitem os dados em tempo real para uma base de dados. E com as informações sobre a vazão é possível estimar o número de habitantes cujo esgoto está sendo coletado. Bingo! Mas isso a CEDAE não faz, não quer fazer porque não lhe agrada a transparência. A CEDAE continua sendo a maior poluidora do estado do Rio de Janeiro.
Além disso, e apenas para citar alguns exemplos de comunidades sem nenhuma rede de coleta e cujos esgotos são lançados nas ruas, em pequenos canais, ou nas galerias de águas pluviais que os conduz às lagoas, aqui vão algumas áreas que merecem a atenção da imprensa e da própria Delegacia de Crimes Ambientais: Cidade de Deus, Jacarepaguá, Taquara, Rio das Pedras, Muzema, Freguesia, Gardênia, Itanhangá e Vila da Paz.
Para fazer uma operação “rato gordo”, o Ministério Público pode abrir um inquérito contra a CEDAE, solicitar a licença ambiental do sistema de coleta que abrange a bacia drenante que deságua no sistema lagunar da região, e quem sabe até chegar ao indiciamento criminal dos responsáveis por essa grande cagada, entre outras, em outras áreas da cidade e em outros municípios.
De fato, “é possível mentir para alguns durante muito tempo; é possível mentir para muitos durante algum tempo; mas não é possível mentir para todos durante todo o tempo”.
Fonte: Luiz Prado Blog.
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