14/6/2008
Por Redação Akatu O mundo se prepara para diminuir a dependência deste recurso, mas enfrenta dificuldades.
Diante da escassez anunciada, dos preços em alta e do aquecimento global, o mundo se prepara para reduzir o uso de uma de suas principais fontes de energia, o petróleo. Produtoras e distribuidoras investem em alternativas. Montadoras testam novas tecnologias para mover carros e caminhões. Mas a tarefa é difícil. Da gélida Sibéria ao tórrido deserto do Saara, não há quem dispense o uso do petróleo. A redução influenciaria a quantidade e o tipo dos bens produzidos na economia mundial – e não se está falando apenas de energia e transporte.
Formado por uma mistura de compostos, o petróleo é matéria-prima essencial nas indústrias de tintas, ceras, vernizes, resinas, extração de óleos e gorduras vegetais, pneus, borrachas, fósforos, fertilizantes e alimentos. A partir de seu refino são extraídos, entre outros, gasolina, diesel, querosene, óleo combustível, lubrificante e parafina. Além disso, as perfurações em busca de petróleo geram também o gás de cozinha, encontrado nos poços de petróleo. Assim, não é à toa que ele tenha sido apelidado de “ouro negro”: o petróleo está presente em uma infinidade de produtos.
Dados fornecidos pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) mostram que o petróleo ocupa uma posição de destaque na matriz energética brasileira, com 37% da oferta de energia primária. Apesar disso, o País começa a fazer sua lição de casa e aprende a depender um pouco menos desse tipo de combustível. É o que ocorre, por exemplo, em Betim, município mineiro conhecido como pólo da indústria automobilística e petroquímica. A cidade é modelo nacional no uso de energias limpas. Betim também participa da campanha internacional denominada Cidades pela Proteção do Clima, destinada a incentivar políticas com medidas quantificáveis para a redução de emissões locais de gases de efeito estufa como forma de melhorar a qualidade do ar e da vida.
Significa que a cidade não apenas utiliza fontes alternativas de energia, mas também se preocupa em racionalizar o uso dos combustíveis fósseis e da eletricidade. Lâmpadas a vapor de sódio, mais eficientes e econômicas, substituem as de mercúrio na iluminação pública. Leis municipais obrigam o uso de veículos oficiais do tipo flex (gasolina e álcool) e a frota de ônibus é movida a biodiesel, que contém um percentual de 2% de fonte energética renovável.
Em regiões bem mais pobres que Betim, a necessidade de encontrar fontes alternativas de energia também está presente. É o que ocorre em Riacho do Cipó, situado em Jeremoabo, no raso da Catarina, Bahia. Ali, a energia elétrica não provém da hidrelétrica Paulo Afonso, distante 160 km do povoado. Ela vem do sol que castiga esse pedaço da caatinga. Painéis solares, instalados pelo Programa Luz para Todos, do governo federal, permitem que os moradores assistam à TV com antena parabólica.
O petróleo vai acabar? - O esforço para limitar o uso de combustíveis fósseis é limitado e a dependência traz a interrogação: será verdade que, diante do aumento da população e das novas necessidades econômicas, chegará um dia em que o petróleo vai acabar? No ritmo atual de consumo, as reservas mundiais já descobertas devem durar apenas mais 75 anos – menos de um século, garantem os especialistas mais otimistas. Os pessimistas falam em algo como 35 anos. A procura pelo “ouro negro” é maior do que a descoberta de novas reservas. E o alto preço do barril que, na virada de 2008, alcançou o recorde de US$ 100, não interfere nesse cálculo. Mas certamente acelera a busca por alternativas, sobretudo quando o preço sobe em função dos conflitos em áreas explosivas do planeta, como é o caso do Oriente Médio.
“Seja como for, o petróleo nunca vai acabar: deixaremos de usá-lo em grande quantidade antes que isso aconteça”, profetiza Roberto Schaffer, pesquisador da Coppe, instituição de pesquisa da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Na opinião de Schaffer, fontes mais limpas, à medida que se tornam mais baratas e eficientes, tomarão o lugar do petróleo, nas utilizações em que ele causa aumento de emissões de gases de efeito estufa como combustível de automóveis e fonte primária de energia. Mas esse recurso encontrará novos espaços, sendo utilizado de forma mais nobre por meio do refino. “Em vez de ser queimado com emissões para a atmosfera, gerará matéria-prima para novos produtos industrializados, onde o carbono fica aprisionado”, explica o pesquisador.
“Após séculos de dependência, seria ilusório imaginar que podemos viver totalmente sem petróleo”, acrescenta Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), das Nações Unidas.
Fugindo da gasolina - Outro grande desafio são os atuais 950 milhões de veículos, que respondem por cerca de 10% das emissões globais de dióxido de carbono – o principal gás causador do efeito estufa. Nesse ponto, o Brasil leva vantagem. O relatório dos cientistas do IPCC, responsável pelos dados mais atualizados sobre o aquecimento global, propõe que os biocombustíveis substituam entre 5% e 10% da gasolina consumida no mundo até 2030. Atualmente, essas fontes renováveis representam apenas 1% da energia utilizada no transporte.
Em um prazo de duas décadas, acredita-se que o Brasil poderá ter capacidade de produzir etanol suficiente para o mundo atingir as metas do IPCC. Traduzindo: evitar a queima de 1,7 trilhão de litros de combustíveis não-renováveis por ano em todo o planeta, de acordo com o estudo do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Estratégico (Nipe), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Essa capacidade é importante, embora a febre do etanol implique em questões sociais fundamentais, como as condições de trabalho dos cortadores de cana e a ocupação de áreas propícias ao cultivo de alimentos. Enquanto os Estados Unidos estipulam metas para substituir, até 2020, um sexto da gasolina por álcool, em território brasileiro, esse combustível mais limpo representa 40% do consumo. E 80% dos novos carros já saem da fábrica com tecnologia flexível, podendo utilizar álcool ou gasolina.
Isso significa que o etanol poderá vir a substituir totalmente a gasolina nesse intervalo de tempo? Bem, não necessariamente. O petróleo é tão importante na civilização moderna que, curiosamente, dependemos dele até mesmo para produzir combustível renovável. “Para 100 litros de etanol, são utilizados 7,1 litros de petróleo, necessários na produção, por exemplo, dos adubos nitrogenados e herbicidas para o cultivo da cana, da gasolina dos tratores, do diesel dos caminhões e do óleo das máquinas e outros equipamentos das usinas”, afirma o pesquisador Isaías Macedo, do Nipe.
A busca por novos caminhos - “Caminhamos para a era do hidrogênio, que fará parte das nossas vidas nos próximos dez anos”, prevê o engenheiro Paulo Emílio de Miranda, da UFRJ. O hidrogênio está presente, por exemplo, nas novas tecnologias desenvolvidas pela indústria automobilística para se adaptar ao mundo sem petróleo. Mas ele não deve abastecer somente os carros. No Japão, segundo Miranda, existem mais de duas mil casas aquecidas por esse tipo de energia elétrica, que não polui e pode ser obtida até da água.
O Brasil dá os primeiros passos, com o projeto de um ônibus abastecido por essa fonte renovável, desenvolvido pela UFRJ com apoio da Petrobras e da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Os experimentos vão além dos centros urbanos. Chegam ao povoado Pico do Amor, próximo a Cuiabá (MT), que ganhou, neste ano, um gerador de eletricidade à base de hidrogênio, extraído do etanol vindo da cana. Projetado pela Unicamp, o equipamento levará luz à comunidade e fará funcionar máquinas para produzir farinha e rapadura.
“A solução não é apenas buscar alternativas, mas ter um estilo de vida mais saudável”, afirma o engenheiro químico Márcio Nele, também da UFRJ. “Não adianta usar biodiesel e dobrar o número de veículos nas ruas”, afirma, lembrando que nunca se consumiu tanta energia no mundo como nos dias atuais. Só para dar um exemplo simples: o que aconteceria se um chinês adotasse os mesmos hábitos de consumo de um americano de hoje? Esse cálculo já foi feito. Se a China tiver três carros para cada quatro habitantes, como ocorre nos Estados Unidos, somará 1,1 bilhão de veículos, mais do que existe hoje em todo o planeta. O consumo de combustível, de 99 milhões de barris diários, também superaria o consumo global atual, segundo previsão de Lester Brown, presidente do Instituto de Política da Terra, organização internacional sediada em Washington, nos Estados Unidos. Para ele, chegou a hora de mudar os padrões econômicos da civilização. “O mundo precisa urgente de um plano B”, afirma. Se, aos poucos, se esforça para diminuir a dependência do petróleo, também precisa aprender a usá-lo de forma mais racional.
* Texto baseado em informações da reportagem “É possível viver sem petróleo?”, Revista Horizonte Geográfico, número 115. Texto de Sérgio Adeodato.
(Envolverde/Instituto Akatu)
Andréa S. Santos55 (71) 9965-3268
Por Redação Akatu O mundo se prepara para diminuir a dependência deste recurso, mas enfrenta dificuldades.
Diante da escassez anunciada, dos preços em alta e do aquecimento global, o mundo se prepara para reduzir o uso de uma de suas principais fontes de energia, o petróleo. Produtoras e distribuidoras investem em alternativas. Montadoras testam novas tecnologias para mover carros e caminhões. Mas a tarefa é difícil. Da gélida Sibéria ao tórrido deserto do Saara, não há quem dispense o uso do petróleo. A redução influenciaria a quantidade e o tipo dos bens produzidos na economia mundial – e não se está falando apenas de energia e transporte.
Formado por uma mistura de compostos, o petróleo é matéria-prima essencial nas indústrias de tintas, ceras, vernizes, resinas, extração de óleos e gorduras vegetais, pneus, borrachas, fósforos, fertilizantes e alimentos. A partir de seu refino são extraídos, entre outros, gasolina, diesel, querosene, óleo combustível, lubrificante e parafina. Além disso, as perfurações em busca de petróleo geram também o gás de cozinha, encontrado nos poços de petróleo. Assim, não é à toa que ele tenha sido apelidado de “ouro negro”: o petróleo está presente em uma infinidade de produtos.
Dados fornecidos pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) mostram que o petróleo ocupa uma posição de destaque na matriz energética brasileira, com 37% da oferta de energia primária. Apesar disso, o País começa a fazer sua lição de casa e aprende a depender um pouco menos desse tipo de combustível. É o que ocorre, por exemplo, em Betim, município mineiro conhecido como pólo da indústria automobilística e petroquímica. A cidade é modelo nacional no uso de energias limpas. Betim também participa da campanha internacional denominada Cidades pela Proteção do Clima, destinada a incentivar políticas com medidas quantificáveis para a redução de emissões locais de gases de efeito estufa como forma de melhorar a qualidade do ar e da vida.
Significa que a cidade não apenas utiliza fontes alternativas de energia, mas também se preocupa em racionalizar o uso dos combustíveis fósseis e da eletricidade. Lâmpadas a vapor de sódio, mais eficientes e econômicas, substituem as de mercúrio na iluminação pública. Leis municipais obrigam o uso de veículos oficiais do tipo flex (gasolina e álcool) e a frota de ônibus é movida a biodiesel, que contém um percentual de 2% de fonte energética renovável.
Em regiões bem mais pobres que Betim, a necessidade de encontrar fontes alternativas de energia também está presente. É o que ocorre em Riacho do Cipó, situado em Jeremoabo, no raso da Catarina, Bahia. Ali, a energia elétrica não provém da hidrelétrica Paulo Afonso, distante 160 km do povoado. Ela vem do sol que castiga esse pedaço da caatinga. Painéis solares, instalados pelo Programa Luz para Todos, do governo federal, permitem que os moradores assistam à TV com antena parabólica.
O petróleo vai acabar? - O esforço para limitar o uso de combustíveis fósseis é limitado e a dependência traz a interrogação: será verdade que, diante do aumento da população e das novas necessidades econômicas, chegará um dia em que o petróleo vai acabar? No ritmo atual de consumo, as reservas mundiais já descobertas devem durar apenas mais 75 anos – menos de um século, garantem os especialistas mais otimistas. Os pessimistas falam em algo como 35 anos. A procura pelo “ouro negro” é maior do que a descoberta de novas reservas. E o alto preço do barril que, na virada de 2008, alcançou o recorde de US$ 100, não interfere nesse cálculo. Mas certamente acelera a busca por alternativas, sobretudo quando o preço sobe em função dos conflitos em áreas explosivas do planeta, como é o caso do Oriente Médio.
“Seja como for, o petróleo nunca vai acabar: deixaremos de usá-lo em grande quantidade antes que isso aconteça”, profetiza Roberto Schaffer, pesquisador da Coppe, instituição de pesquisa da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Na opinião de Schaffer, fontes mais limpas, à medida que se tornam mais baratas e eficientes, tomarão o lugar do petróleo, nas utilizações em que ele causa aumento de emissões de gases de efeito estufa como combustível de automóveis e fonte primária de energia. Mas esse recurso encontrará novos espaços, sendo utilizado de forma mais nobre por meio do refino. “Em vez de ser queimado com emissões para a atmosfera, gerará matéria-prima para novos produtos industrializados, onde o carbono fica aprisionado”, explica o pesquisador.
“Após séculos de dependência, seria ilusório imaginar que podemos viver totalmente sem petróleo”, acrescenta Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), das Nações Unidas.
Fugindo da gasolina - Outro grande desafio são os atuais 950 milhões de veículos, que respondem por cerca de 10% das emissões globais de dióxido de carbono – o principal gás causador do efeito estufa. Nesse ponto, o Brasil leva vantagem. O relatório dos cientistas do IPCC, responsável pelos dados mais atualizados sobre o aquecimento global, propõe que os biocombustíveis substituam entre 5% e 10% da gasolina consumida no mundo até 2030. Atualmente, essas fontes renováveis representam apenas 1% da energia utilizada no transporte.
Em um prazo de duas décadas, acredita-se que o Brasil poderá ter capacidade de produzir etanol suficiente para o mundo atingir as metas do IPCC. Traduzindo: evitar a queima de 1,7 trilhão de litros de combustíveis não-renováveis por ano em todo o planeta, de acordo com o estudo do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Estratégico (Nipe), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Essa capacidade é importante, embora a febre do etanol implique em questões sociais fundamentais, como as condições de trabalho dos cortadores de cana e a ocupação de áreas propícias ao cultivo de alimentos. Enquanto os Estados Unidos estipulam metas para substituir, até 2020, um sexto da gasolina por álcool, em território brasileiro, esse combustível mais limpo representa 40% do consumo. E 80% dos novos carros já saem da fábrica com tecnologia flexível, podendo utilizar álcool ou gasolina.
Isso significa que o etanol poderá vir a substituir totalmente a gasolina nesse intervalo de tempo? Bem, não necessariamente. O petróleo é tão importante na civilização moderna que, curiosamente, dependemos dele até mesmo para produzir combustível renovável. “Para 100 litros de etanol, são utilizados 7,1 litros de petróleo, necessários na produção, por exemplo, dos adubos nitrogenados e herbicidas para o cultivo da cana, da gasolina dos tratores, do diesel dos caminhões e do óleo das máquinas e outros equipamentos das usinas”, afirma o pesquisador Isaías Macedo, do Nipe.
A busca por novos caminhos - “Caminhamos para a era do hidrogênio, que fará parte das nossas vidas nos próximos dez anos”, prevê o engenheiro Paulo Emílio de Miranda, da UFRJ. O hidrogênio está presente, por exemplo, nas novas tecnologias desenvolvidas pela indústria automobilística para se adaptar ao mundo sem petróleo. Mas ele não deve abastecer somente os carros. No Japão, segundo Miranda, existem mais de duas mil casas aquecidas por esse tipo de energia elétrica, que não polui e pode ser obtida até da água.
O Brasil dá os primeiros passos, com o projeto de um ônibus abastecido por essa fonte renovável, desenvolvido pela UFRJ com apoio da Petrobras e da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Os experimentos vão além dos centros urbanos. Chegam ao povoado Pico do Amor, próximo a Cuiabá (MT), que ganhou, neste ano, um gerador de eletricidade à base de hidrogênio, extraído do etanol vindo da cana. Projetado pela Unicamp, o equipamento levará luz à comunidade e fará funcionar máquinas para produzir farinha e rapadura.
“A solução não é apenas buscar alternativas, mas ter um estilo de vida mais saudável”, afirma o engenheiro químico Márcio Nele, também da UFRJ. “Não adianta usar biodiesel e dobrar o número de veículos nas ruas”, afirma, lembrando que nunca se consumiu tanta energia no mundo como nos dias atuais. Só para dar um exemplo simples: o que aconteceria se um chinês adotasse os mesmos hábitos de consumo de um americano de hoje? Esse cálculo já foi feito. Se a China tiver três carros para cada quatro habitantes, como ocorre nos Estados Unidos, somará 1,1 bilhão de veículos, mais do que existe hoje em todo o planeta. O consumo de combustível, de 99 milhões de barris diários, também superaria o consumo global atual, segundo previsão de Lester Brown, presidente do Instituto de Política da Terra, organização internacional sediada em Washington, nos Estados Unidos. Para ele, chegou a hora de mudar os padrões econômicos da civilização. “O mundo precisa urgente de um plano B”, afirma. Se, aos poucos, se esforça para diminuir a dependência do petróleo, também precisa aprender a usá-lo de forma mais racional.
* Texto baseado em informações da reportagem “É possível viver sem petróleo?”, Revista Horizonte Geográfico, número 115. Texto de Sérgio Adeodato.
(Envolverde/Instituto Akatu)
Andréa S. Santos55 (71) 9965-3268
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