Por Arthur Soffiati
Ao longo da história dos peixes, formaram-se quatro classes: os peixes sem mandíbula (agnatos), os peixes com carapaça (placodermos), os peixes cartilaginosos (condrictes) e os peixes ósseos (osteíctes). A classe dos placodermos foi extinta pela própria natureza, antes da constituição dos hominídeos.
Investigações arqueológicas efetuadas no norte-noroeste fluminense revelam que a ictiofauna consistiu numa fonte privilegiada de alimentos para os povos indígenas. A empreendida na ilha maior do arquipélago de Santana, em frente à foz do Rio Macaé, acusou a existência, dentre outras espécies, do cação-martelo (Sphyrna sp), das raias, das quais foi identificada a espécie raia-chita ou raia-pintada (Aetobatus narinari) e encontradas peças cartilaginosas pertencentes ao gênero Myliobatis ou Rhinoptera. Os habitantes indígenas da ilha recorriam principalmente aos abundantes bagres, destacando-se o bagre-bandeira (Bagre bagre) e o voador (Dactylopterus voltans). Talvez, por este motivo, o Rio Macaé tenha sido denominado pelos primeiros europeus de Rio dos Bagres.
Foram também encontrados restos dos gêneros Epinephelus, possivelmente pertencentes a garoupas, meros e chernes, e do Mycteroperca, quiçá associados a badejos. No material desenterrado, havia ossos de enchova (Pomatomus saltatrix), de xaréu (Carans sp), do gênero Selene (peixe-galo), de cocoroca (Haemulon sp), de sargo-de-dente (Archosargus probatocephalus), de marimbá (Diplodus argenteus), de corvina (Micropogonias furnieri), de pirangica (Kiphosus sectatrix), de enxada (Chaetodipterus faber), de budiões (gêneros Scarus e Sparisoma), de cangulo (Balistes vetula) e do gênero Mugil (tainha). No entanto, o prato predileto dos primitivos habitantes da ilha eram os baiacus, dos quais foram reconhecidos restos do baiacu-arara, (Lagocephalus laevigatus) e do baiacu-de-espinho (Diodon hystrix). Peixes extremamente venenosos por sintetizarem uma toxina só encontrada nos tetradontídeos e na família Salamandridae, da classe dos anfíbios, se ingeridos sem os devidos cuidados na sua preparação, podem causar a morte em 30 minutos.
Ao desembarcarem pela primeira vez nas terras que conseguiram como sesmarias (1632), os sete capitães ficaram “pasmos de ver semelhantes grandezas de peixes em terra.” Na segunda viagem (1633), voltam a se surpreender com a abundância de peixes de água doce que os nativos lhes ofereciam com hospitalidade. Numa determinada lagoa, conta o Roteiro, os indígenas dispuseram-se a pescar usando redes que teciam com uma planta seca ao sol e torcida nas pernas ou nas palmas das mãos. Tudo indica tratar-se da tabua (Typha domingensis). Duas horas depois, vieram carregados de peixes de várias espécies, predominando a piabanha, que acabou se transformando no nome de batismo da lagoa.
O primeiro documento a nos fornecer uma relação relativamente pormenorizada sobre a ictiofauna da região é a Descrição de Couto Reis (1785). “Encontram-se – anota ele – peixes de várias qualidades tanto do mar como de água doce, e alguns de um sabor admirável.” Entre os peixes do mar, o capitão aponta o robalo (o de melhor sabor, sobretudo o do Furado e da Lagoa Feia), o bagre, a tainha, a cruvina (corvina) e a carapeva (carapeba). Entre os de água doce, inclui a piabanha, o piau, excelentes, o coromatan (crumatã, curumatã ou corimbatá), taraíra (traíra), jundiá, duiá, taiabucu, alambariz (lambari), todos com muita espinha e semelhantes ao bagre. Nas quedas d’água, vivem surubins de duas espécies. Fala ainda da piracanjuba e do dourado. Estranha-se a existência deste último no século 18, nos ecossistemas de água doce da região, pois que, nativo de outras bacias, só foi introduzido na bacia do Paraíba do Sul nos séculos 19 e 20, em duas tentativas frustradas e numa bem sucedida. Das duas uma: ou o dourado foi introduzido em época anterior ao que normalmente se julga ou nomeava-se alguma espécie nativa com este nome. Como, porém, todas as espécies relacionadas por Couto Reis continuam sendo encontradas ainda hoje, embora em escala bem mais reduzida, é de se supor que o dourado tenha sido translocado para o norte-noroeste fluminense em período anterior ao comumente admitido.
Nenhum dos naturalistas que percorreu o norte-noroeste fluminense, no século 19, dedicava-se mais particularmente ao estudo da ictiofauna. Eis porque, talvez, não encontremos nenhuma menção a peixes, quanto à referida região, em Maximiliano de Wied-Neuwied, Saint-Hilaire, Burmeister e Tschudi. Os memorialistas brasileiros é que se referem aos peixes de modo bastante informal. Nos escritos de Aires de Casal (1817), José Carneiro da Silva (1819), Pizarro e Araujo (1822), Muniz de Souza (1834) e Teixeira de Mello (1886), fala-se em robalo, tainha, piabanha, piau, crumatã, surubins corvina, acará, traíra, bagres, jundiá, cachimbau, piaba, manjuba, ticopá, duiá, morobá, urutum, sairu e muçum. Os ecossistemas mais pródigos em peixes, além do mar, eram as Lagoas Feia (sempre em primeiro lugar) e a de Cima, o Rio Paraíba do Sul e vários brejos, na verdade, o incontável número de lagoas. No seu primeiro trabalho mais longo (1934), Lamego exalta o robalo da Lagoa Feia, a traíra da Lagoa do Campelo, a corvina da Lagoa de Cima e o piau do Rio Paraíba do Sul.
Ao longo da história dos peixes, formaram-se quatro classes: os peixes sem mandíbula (agnatos), os peixes com carapaça (placodermos), os peixes cartilaginosos (condrictes) e os peixes ósseos (osteíctes). A classe dos placodermos foi extinta pela própria natureza, antes da constituição dos hominídeos.
Investigações arqueológicas efetuadas no norte-noroeste fluminense revelam que a ictiofauna consistiu numa fonte privilegiada de alimentos para os povos indígenas. A empreendida na ilha maior do arquipélago de Santana, em frente à foz do Rio Macaé, acusou a existência, dentre outras espécies, do cação-martelo (Sphyrna sp), das raias, das quais foi identificada a espécie raia-chita ou raia-pintada (Aetobatus narinari) e encontradas peças cartilaginosas pertencentes ao gênero Myliobatis ou Rhinoptera. Os habitantes indígenas da ilha recorriam principalmente aos abundantes bagres, destacando-se o bagre-bandeira (Bagre bagre) e o voador (Dactylopterus voltans). Talvez, por este motivo, o Rio Macaé tenha sido denominado pelos primeiros europeus de Rio dos Bagres.
Foram também encontrados restos dos gêneros Epinephelus, possivelmente pertencentes a garoupas, meros e chernes, e do Mycteroperca, quiçá associados a badejos. No material desenterrado, havia ossos de enchova (Pomatomus saltatrix), de xaréu (Carans sp), do gênero Selene (peixe-galo), de cocoroca (Haemulon sp), de sargo-de-dente (Archosargus probatocephalus), de marimbá (Diplodus argenteus), de corvina (Micropogonias furnieri), de pirangica (Kiphosus sectatrix), de enxada (Chaetodipterus faber), de budiões (gêneros Scarus e Sparisoma), de cangulo (Balistes vetula) e do gênero Mugil (tainha). No entanto, o prato predileto dos primitivos habitantes da ilha eram os baiacus, dos quais foram reconhecidos restos do baiacu-arara, (Lagocephalus laevigatus) e do baiacu-de-espinho (Diodon hystrix). Peixes extremamente venenosos por sintetizarem uma toxina só encontrada nos tetradontídeos e na família Salamandridae, da classe dos anfíbios, se ingeridos sem os devidos cuidados na sua preparação, podem causar a morte em 30 minutos.
Ao desembarcarem pela primeira vez nas terras que conseguiram como sesmarias (1632), os sete capitães ficaram “pasmos de ver semelhantes grandezas de peixes em terra.” Na segunda viagem (1633), voltam a se surpreender com a abundância de peixes de água doce que os nativos lhes ofereciam com hospitalidade. Numa determinada lagoa, conta o Roteiro, os indígenas dispuseram-se a pescar usando redes que teciam com uma planta seca ao sol e torcida nas pernas ou nas palmas das mãos. Tudo indica tratar-se da tabua (Typha domingensis). Duas horas depois, vieram carregados de peixes de várias espécies, predominando a piabanha, que acabou se transformando no nome de batismo da lagoa.
O primeiro documento a nos fornecer uma relação relativamente pormenorizada sobre a ictiofauna da região é a Descrição de Couto Reis (1785). “Encontram-se – anota ele – peixes de várias qualidades tanto do mar como de água doce, e alguns de um sabor admirável.” Entre os peixes do mar, o capitão aponta o robalo (o de melhor sabor, sobretudo o do Furado e da Lagoa Feia), o bagre, a tainha, a cruvina (corvina) e a carapeva (carapeba). Entre os de água doce, inclui a piabanha, o piau, excelentes, o coromatan (crumatã, curumatã ou corimbatá), taraíra (traíra), jundiá, duiá, taiabucu, alambariz (lambari), todos com muita espinha e semelhantes ao bagre. Nas quedas d’água, vivem surubins de duas espécies. Fala ainda da piracanjuba e do dourado. Estranha-se a existência deste último no século 18, nos ecossistemas de água doce da região, pois que, nativo de outras bacias, só foi introduzido na bacia do Paraíba do Sul nos séculos 19 e 20, em duas tentativas frustradas e numa bem sucedida. Das duas uma: ou o dourado foi introduzido em época anterior ao que normalmente se julga ou nomeava-se alguma espécie nativa com este nome. Como, porém, todas as espécies relacionadas por Couto Reis continuam sendo encontradas ainda hoje, embora em escala bem mais reduzida, é de se supor que o dourado tenha sido translocado para o norte-noroeste fluminense em período anterior ao comumente admitido.
Nenhum dos naturalistas que percorreu o norte-noroeste fluminense, no século 19, dedicava-se mais particularmente ao estudo da ictiofauna. Eis porque, talvez, não encontremos nenhuma menção a peixes, quanto à referida região, em Maximiliano de Wied-Neuwied, Saint-Hilaire, Burmeister e Tschudi. Os memorialistas brasileiros é que se referem aos peixes de modo bastante informal. Nos escritos de Aires de Casal (1817), José Carneiro da Silva (1819), Pizarro e Araujo (1822), Muniz de Souza (1834) e Teixeira de Mello (1886), fala-se em robalo, tainha, piabanha, piau, crumatã, surubins corvina, acará, traíra, bagres, jundiá, cachimbau, piaba, manjuba, ticopá, duiá, morobá, urutum, sairu e muçum. Os ecossistemas mais pródigos em peixes, além do mar, eram as Lagoas Feia (sempre em primeiro lugar) e a de Cima, o Rio Paraíba do Sul e vários brejos, na verdade, o incontável número de lagoas. No seu primeiro trabalho mais longo (1934), Lamego exalta o robalo da Lagoa Feia, a traíra da Lagoa do Campelo, a corvina da Lagoa de Cima e o piau do Rio Paraíba do Sul.
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