17/10/2008
Wolfgang KerlerNações Unidas – Aliviar a penúria dos famintos do mundo continua sendo uma meta muito distante. O Índice Global da Fome (IGH), publicado esta semana, indica que, mesmo antes da crise alimentar em curso, 33 países apresentavam situação alarmante. A população de famintos da Índia é a maior, em termos absolutos, entre as de todos os países do mundo em desenvolvimento analisados pelo Instituto Internacional para Pesquisa em Políticas Alimentares (IFPRI) e outras organizações especializadas. A tal ponto chega o alarme que o IFPRI apresentou, também esta semana, um informe nacional específico, o Índice do Estado da Fome na Índia.
Embora o IGH 2008 apresente melhoras desde a medição feita em 1990, não inclui dados posteriores a 2006, quando o aumento de preços e a escassez de comida, entre outros fatores originaram fome em todo o mundo e uma crise alimentar mundial. “Embora encontremos vários casos de sucesso, em nenhum foi de alcance geral”, disse à IPS Marion Aberle, porta-voz da organização não-governamental alemã Welthungerhilfe (antes conhecida como Agro-Ação Alemã). “É escandaloso que quase um bilhão de pessoas no mundo ainda sofram fome”, acrescentou.
Welthungerhilf, IFPRI e Concerni Worldwide elaboraram o IGH 2008, estudo que inclui 88 países em desenvolvimento com os últimos dados disponíveis, divulgados entre 2001 e 2006. Devido às dadas em que foram recopiladas essas estatísticas, “a análise não reflete a atual crise pelo aumento de preços dos alimentos, mas evidencia quais países poderiam ser mais vulneráveis a ela”, disse o IFPRI em uma declaração. O dramático encarecimento da comida registrado desde 2006 marcou um grande retrocesso na luta contra a desnutrição, pois os países mais afetados pela fome são importadores de cereais e outros alimentos.
Mesmo assim, “seus setores agrícolas têm o potencial de alimentar suas respectivas populações”, afirmou Aberle. “A única maneira de erradicar efetivamente a fome é impulsionar a produção agrícola no mundo em desenvolvimento”, prosseguiu. Além disso, segundo a ativista, é preciso dar assistência alimentar aos países que atualmente sofrem fome. O IGH combina, em sua maior parte, três indicadores: a proporção de desnutridos, a prevalência de menores de 5 anos com baixo peso e a mortalidade infantil. O índice tem uma escala de cem pontos. O zero marca a inexistência da fome. Em termos globais, o IGH caiu quase um quinto desde os 18,7 de 1990 para 15,2 deste ano.
“O mundo fez avanços muito lentos na redução da fome nas décadas passadas, com diferenças dramáticas entre países e regiões”, disse Joachim von Braun, diretor-geral do IFPRI. O IGH caiu desde 1990 40% na América Latina, cerca de 30% no sudeste asiático, 25% na Ásia meridional e 11% na África subsaariana. “A deterioração mais dramática foi registrada na República Democrática do Congo”, disse Aberle. Em 1990, seu IGH somava 25,5 pontos, e no informe atual caiu para 42,7. Neste país existem todos os fatores das nações muito afetadas pela fome: guerra, conflitos violentos e instabilidade política, alta prevalência do vírus da deficiência imunológica humana (HIV, causador da Aids), desigualdade e falta de liberdades.
Outros países com níveis “extremamente alarmantes” de fome (com IGH entre 20 e 29,9) são Eritréia, Burundi, Níger, Serra Leoa, Libéria e Etiópia. Com exceção do Haiti, os 26 países situados neste nível estão na África subsaariana, no sudeste asiático e na Ásia meridional. As regiões com pior pontuação média no IGH 2008 são África subsaariana, com 23,3, e Ásia meridional, com 23. As nações com melhores resultados são Kuwait e Peru. Ambos melhoraram 70% seus IGH. Mas apenas um punhado de países fez progressos significativos. Os apresentados por um terço dos analisados foram modestos, com queda do IGH entre 25% e 50%.
Um desses países é a Índia, cujo IGH caiu de 32,5 em 1990 para 23,7 em 2008. Hoje está na 66ª colocação entre os 88 países analisados pelo índice. Ali vivem 200 milhões de famintos, mais de um quinto do total. O informe nacional analisa os 17 grandes Estados da Índia. Entre eles, o IGH vai de 13,6 em Punjab a 30,9 em Madhya Pradesh, já que nenhum tem fome “baixa” ou “moderada”. Em quase todos os Estados, o baixo peso dos menores de 5 anos constitui a maior contribuição ao índice, e no restante é o déficit de ingestão diária de calorias.
“Outro dado interessante é o vinculo entre indicadores econômicos e o IGH: nem todos os Estados com crescimento econômico alto tem uma boa situação alimentar”, disse Menon. Para erradicar a fome na Índia os autores do informe recomendam fortalecer o setor agrícola, a proteção social, os programas de redução da pobreza e os de distribuição de nutrientes essenciais, bem com cuidados com a saúde de mulheres e crianças, especialmente durante a gestação e nos primeiros anos de vida. (IPS/Envolverde)
Crédito de imagem: Diego Rivera - La noche de los pobres
Fonte: Envolverde / IPS.
Wolfgang KerlerNações Unidas – Aliviar a penúria dos famintos do mundo continua sendo uma meta muito distante. O Índice Global da Fome (IGH), publicado esta semana, indica que, mesmo antes da crise alimentar em curso, 33 países apresentavam situação alarmante. A população de famintos da Índia é a maior, em termos absolutos, entre as de todos os países do mundo em desenvolvimento analisados pelo Instituto Internacional para Pesquisa em Políticas Alimentares (IFPRI) e outras organizações especializadas. A tal ponto chega o alarme que o IFPRI apresentou, também esta semana, um informe nacional específico, o Índice do Estado da Fome na Índia.
Embora o IGH 2008 apresente melhoras desde a medição feita em 1990, não inclui dados posteriores a 2006, quando o aumento de preços e a escassez de comida, entre outros fatores originaram fome em todo o mundo e uma crise alimentar mundial. “Embora encontremos vários casos de sucesso, em nenhum foi de alcance geral”, disse à IPS Marion Aberle, porta-voz da organização não-governamental alemã Welthungerhilfe (antes conhecida como Agro-Ação Alemã). “É escandaloso que quase um bilhão de pessoas no mundo ainda sofram fome”, acrescentou.
Welthungerhilf, IFPRI e Concerni Worldwide elaboraram o IGH 2008, estudo que inclui 88 países em desenvolvimento com os últimos dados disponíveis, divulgados entre 2001 e 2006. Devido às dadas em que foram recopiladas essas estatísticas, “a análise não reflete a atual crise pelo aumento de preços dos alimentos, mas evidencia quais países poderiam ser mais vulneráveis a ela”, disse o IFPRI em uma declaração. O dramático encarecimento da comida registrado desde 2006 marcou um grande retrocesso na luta contra a desnutrição, pois os países mais afetados pela fome são importadores de cereais e outros alimentos.
Mesmo assim, “seus setores agrícolas têm o potencial de alimentar suas respectivas populações”, afirmou Aberle. “A única maneira de erradicar efetivamente a fome é impulsionar a produção agrícola no mundo em desenvolvimento”, prosseguiu. Além disso, segundo a ativista, é preciso dar assistência alimentar aos países que atualmente sofrem fome. O IGH combina, em sua maior parte, três indicadores: a proporção de desnutridos, a prevalência de menores de 5 anos com baixo peso e a mortalidade infantil. O índice tem uma escala de cem pontos. O zero marca a inexistência da fome. Em termos globais, o IGH caiu quase um quinto desde os 18,7 de 1990 para 15,2 deste ano.
“O mundo fez avanços muito lentos na redução da fome nas décadas passadas, com diferenças dramáticas entre países e regiões”, disse Joachim von Braun, diretor-geral do IFPRI. O IGH caiu desde 1990 40% na América Latina, cerca de 30% no sudeste asiático, 25% na Ásia meridional e 11% na África subsaariana. “A deterioração mais dramática foi registrada na República Democrática do Congo”, disse Aberle. Em 1990, seu IGH somava 25,5 pontos, e no informe atual caiu para 42,7. Neste país existem todos os fatores das nações muito afetadas pela fome: guerra, conflitos violentos e instabilidade política, alta prevalência do vírus da deficiência imunológica humana (HIV, causador da Aids), desigualdade e falta de liberdades.
Outros países com níveis “extremamente alarmantes” de fome (com IGH entre 20 e 29,9) são Eritréia, Burundi, Níger, Serra Leoa, Libéria e Etiópia. Com exceção do Haiti, os 26 países situados neste nível estão na África subsaariana, no sudeste asiático e na Ásia meridional. As regiões com pior pontuação média no IGH 2008 são África subsaariana, com 23,3, e Ásia meridional, com 23. As nações com melhores resultados são Kuwait e Peru. Ambos melhoraram 70% seus IGH. Mas apenas um punhado de países fez progressos significativos. Os apresentados por um terço dos analisados foram modestos, com queda do IGH entre 25% e 50%.
Um desses países é a Índia, cujo IGH caiu de 32,5 em 1990 para 23,7 em 2008. Hoje está na 66ª colocação entre os 88 países analisados pelo índice. Ali vivem 200 milhões de famintos, mais de um quinto do total. O informe nacional analisa os 17 grandes Estados da Índia. Entre eles, o IGH vai de 13,6 em Punjab a 30,9 em Madhya Pradesh, já que nenhum tem fome “baixa” ou “moderada”. Em quase todos os Estados, o baixo peso dos menores de 5 anos constitui a maior contribuição ao índice, e no restante é o déficit de ingestão diária de calorias.
“Outro dado interessante é o vinculo entre indicadores econômicos e o IGH: nem todos os Estados com crescimento econômico alto tem uma boa situação alimentar”, disse Menon. Para erradicar a fome na Índia os autores do informe recomendam fortalecer o setor agrícola, a proteção social, os programas de redução da pobreza e os de distribuição de nutrientes essenciais, bem com cuidados com a saúde de mulheres e crianças, especialmente durante a gestação e nos primeiros anos de vida. (IPS/Envolverde)
Crédito de imagem: Diego Rivera - La noche de los pobres
Fonte: Envolverde / IPS.
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